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Custo de Produção de Cana-de-Açúcar nos diferentes sistemas de Produção nas Regiões do Estado de São Paulo

Marli Dias Mascarenhas Oliveira e Katia Nachiluk

A busca por fontes de energia limpa e renovável, a demanda mundial de açúcar e a procura por alternativas para substituir o petróleo desde meados dos anos 1970 são alguns dos fatores que impulsionaram a expansão da cultura da cana-de-açúcar no País. O segmento sucroalcooleiro conta também com a cogeração de energia a partir da queima do bagaço e da palha de cana-de-açúcar, em que o excedente de energia pode ser comercializado para as companhias elétricas. Além disso, outros produtos como plásticos vêm sendo desenvolvidos. 

O Brasil, na safra 2009/10, foi responsável pela produção de 603 milhões de t da cana-de-açúcar, possibilitando a obtenção de 33 milhões de t de açúcar e 2,57 bilhões de litros de álcool; o Estado de São Paulo produziu 60% deste total de cana-de-açúcar processado, ou seja, 124 de milhões de t (MAPA, 2010). Em trabalho realizado por Olivette, Nachiluk e Francisco (2010), utilizando dados do LUPA (Levantamento das Unidades de Produção Agrícola), verificou-se que a cultura de cana-de-açúcar expandiu 101% nos últimos 12 anos, comparando o levantamento realizado entre 1995/1996 a 2007/2008, o que vem ocorrendo principalmente em áreas de pastagem, evidenciando a liderança paulista na produção de cana-de-açúcar.


De acordo com SMA (2010), na safra 2009/10 foram colhidos 4,34 mil ha de cana-de-
-açúcar no Estado de São Paulo e, deste total, 2,42 mil ha foram de cana crua colhidos mecanicamente ou manualmente, correspondendo a 58% da área.

Segundo a estratificação dos fornecedores de cana-de-açúcar do Estado de São Paulo
associados à Organização de Produtores de Cana da Região Centro-Sul (ORPLANA)4, 90%
destes entregam até 12 mil t e são responsáveis por 36,4% da produção; já os que entregam entre 12 mil t a 50 mil t correspondem a 8,5% dos fornecedores (33,7% da produção) e os fornecedores que entregam acima de 50 mil t, ou seja, 29,9% da produção, representam 1,5% (SILVA; OLIVEIRA, 2010).

As questões ambientais e a legislação trabalhista que permeiam a discussão da produção
canavieira e são responsáveis pelas interferências ocorridas no manejo das operações para
a produção da cultura de maneira produtiva, adequada e respeitando o meio ambiente, têm resultado em algumas mudanças na realização das operações e a evolução dos sistemas de produção.

As operações de plantio e colheita da cultura são as operações que definem o sistema produtivo adotado pelo fornecedor (OLIVEIRA; NACHILUK; TORQUATO, 2010). Esse ambiente de mudança requer esforços inovadores, buscando incremento da competitividade das unidades produtivas, o que pode ocorrer por três vias preferenciais:
adoção de novas tecnologias e formas de gestão; diferenciação pela qualidade do produto
pela colheita; e redução de custos de produção.

Face à atual diversidade dos sistemas de produção da cultura, é primordial conhecer
qual ou quais seriam aqueles que propiciaria maior inserção competitiva do ponto de vista da tomada de decisão e seu impacto no custo de produção. Nesse sentido, os dados levantados, bem como o custo estabelecido, são de grande importância para os fornecedores por oferecer alternativa de alocação de seus recursos e auxiliar na tomada de decisão na gestão da propriedade.

Além disso, serve para todo o setor como base na aplicação de políticas públicas, na compra
de insumos e defensivos, e na negociação com as usinas. 

Este estudo tem como objetivo apresentar a estimava de custo de produção para a cultura de cana-de-açúcar das regiões representativas do Estado de São Paulo, baseadas nos coeficientes técnicos obtidos em pesquisa de campo, realizado no mês de julho de 2009, conforme descrito por Oliveira, Nachiluk e Torquato (2010).


2 – MATERIAL E MÉTODO
Para a cultura da cana-de-açúcar, a variável regional interfere na maneira de condução
da cultura e na possibilidade de mecanização, notadamente da colheita. Foi determinado que os sistemas deveriam ser definidos por região. Desse modo, identificaram-se as seis regiões mais representativas no Estado de São Paulo em relação à quantidade de cana fornecida às usinas e número de fornecedores. A amostra que envolveu o levantamento de campo foi constituída da classificação dos fornecedores das regiões selecionadas por estratos, de acordo com a quantidade de cana entregue na usina (OLIVEIRA; NACHILUK; TORQUATO, 2010).

O questionário foi elaborado por meio de discussões entre a equipe do projeto e técnicos
de entidades com conhecimento na prática, cultivo, tratos e colheita da cultura. Contemplaram-se todas as operações possíveis durante o ciclo produtivo da cana-de-açúcar em suas diferentes formas de realização.

Foram realizadas entrevistas dirigidas, com perguntas fechadas, junto a 48 fornecedores produtores de cana das regiões estabelecidas. O contato foi realizado pelos representantes das associações municipais ligados à ORPLANA dos seguintes municípios: Piracicaba (Piracicaba, Capivari e Porto Feliz); Ribeirão Preto (Igarapava, Guariba e Sertãozinho); Catanduva (Catanduva e Monte Aprazível), Assis (Assis); Jaú (Jaú, Barra Bonita e Lençóis Paulista); e Araçatuba (ValparaísoAndradina e General Salgado). 

Nessas entrevistas, havia perguntas abertas com o intuito de averiguar os sistemas de produção, uso de mão de obra e evolução do nível de mecanização das
operações (Figura 1). 

Desse modo, foram consideradas na avaliação a forma de realização das seguintes
fases: preparo do solo, tipos de plantio, tratos culturais cana planta e cana soca e o sistema de colheita. 

Para adequação das operações realizadas nas regiões na elaboração das matrizes de coeficientes técnicos e respectivos sistemas de produção, adotou-se o conceito utilizado por Mello et al. (1988), que define sistema de produção como o conjunto de manejos, práticas ou técnicas agrícolas realizadas na condução de uma cultura, de maneira mais ou menos homogênea, por grupos representativos de produtores. 

As variáveis consideradas referem-se a: manejo do preparo do solo, caracterizado pelo uso e potência das máquinas; práticas de plantio e semeadura, caracterizadas pelo uso de maquinaria, sementes qualificadas, outros insumos e espaçamento adotado; técnicas observadas nos tratos culturais, pelo uso de adubos, defensivos, herbicidas, mecanização e outras técnicas específicas para a cultura, ou mesmo, técnicas não convencionais; e práticas relacionadas à colheita, quanto ao uso de máquinas e de mão de obra. 

Complementado por Cézar et al. (1991), para quem “sistema de produção” é entendido como um conceito próximo a “técnica” tal como definida pela teoria neoclássica da produção: “trata-se de uma combinação particular de fatores de produção através da qual se obtém um determinado produto”. 

Avaliou-se o uso de horas de mão de obra, trator e equipamentos, dos insumos e quantidade consumida e empreita, para cada uma das operações agrícolas na condução da atividade e tecnologia adotada objetivo da pesquisa, de acordo com a sequência de operações que o produtor de cana-de-açúcar utiliza normalmente. 

Considerou-se apenas o ano agrícola 2008/09. Deve-se destacar que, no caso das operações realizadas por empreita, os dados foram levantados de acordo com a forma de pagamento, seja ela pela usina, terceiros (empresas que fornecem esses serviços) e condomínios.

Na descrição dos sistemas de produção, considerou-se o sistema convencional de
preparo do solo e plantio (manual), predominante nas regiões pesquisadas, sendo que as operações de colheita manual referem-se à canaqueimada e a colheita mecânica, à cana crua. 

Portanto, nesse estudo, as operações que definem as diferentes formas de conduzir a cultura, ou seja, os sistemas de produção, são o plantio e a colheita. 

A metodologia de custo utilizada é a do custo operacional de produção, que considera despesas diretas com insumos (sementes, fertilizantes, defensivos, etc.), serviços de operação (mão de obra e operação de máquinas) e de empreitas, e despesas indiretas, como depreciação de máquinas, encargos sociais, encargos financeiros, etc. (MATSUNAGA et al., 1976). 

A soma das despesas diretas denomina-se custo operacional efetivo (COE) e, quando se somam a estas as despesas indiretas, o resultado denomina-se custo operacional total (COT).

Neste trabalho, foi revista a estrutura utilizada desde os anos 1970 proposto por Matsunaga
et al. (1976), e considerando as condições atuais das legislações que envolvem as relações
trabalhistas na agricultura, os encargos sociais até então contabilizados como despesa indireta(COT) foram incorporados ao COE por ser considerado um desembolso direto do produtor.

Para o cálculo do custo de máquinas e equipamentos (Anexo 1); considerou-se a classificação tradicional de custos em fixos e variáveis citados por Hoffmann et al. (1976) com algumas adaptações.

Os custos variáveis são os custos associados diretamente ao uso dos bens de capital,como combustíveis, filtros, óleos lubrificantes, pneus, peças, mão de obra mecânica, etc. São
constituídos dos componentes:

a) Reparos e manutenção: são os custos realizados para manter os bens de capital em plena
condição de uso. Em geral, esses custos estão relacionados com a intensidade de uso.
Nesse estudo, os custos com reparos foram calculados pela estimativa de uma taxa percentual anual em função do valor inicial. 

Os gastos com manutenção preventiva foram calculados pela somatória das despesas com lubrificantes,filtros e graxas, obedecendo o período de substituição recomendado pelos fabricantes.

b) Custo com operações: são os gastos realizados com o uso das máquinas, calculados pelo
consumo de combustível. 

Os custos fixos são aqueles que não variam com o número de horas utilizadas de uma máquina (juros sobre o capital investido, seguro, abrigo, depreciação anual, entre outros). Nesse estudo, foi considerado como custo fixo somente a parcela referente à depreciação de máquinas e equipamentos, por entender que ele deve ser remunerado ao médio prazo.

Depreciação é o custo necessário para substituir os bens de capital quando se tornam
improdutivos pelo desgaste físico (depreciação física), ou quando perdem valor com o decorrer dos anos devido à obsolescência tecnológica. A utilização de um bem de capital ao longo do tempo anulará seu valor ou o reduzirá a um mínimo.

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O método de depreciação adotado é o linear ou o das cotas fixas. Pelo método linear, a taxa anual de depreciação é calculada dividindo-se o custo inicial (preço de aquisição ou preço de reposição) menos um valor final presumido de sucata, pelo número de anos de duração provável. Para se calcular a depreciação por hora, basta dividir a depreciação anual pelo número de horas de uso no ano.

Em qualquer ano, a depreciação (Dt), é dada pela fórmula:
Vt VR
t
= −
onde:
Dt = valor da depreciação no ano t;
VI – VR = valor depreciável (valor inicial menos o
valor de sucata – 20% do valor inicial);
N = anos de vida útil do ativo.
O método de depreciação adotado é o linear ou o das cotas fixas. Pelo método linear, a taxa anual de depreciação é calculada dividindo-se o custo inicial (preço de aquisição ou preço de reposição) menos um valor final presumido de sucata, pelo número de anos de duração provável. Para se calcular a depreciação por hora, basta dividir a depreciação anual pelo número de horas de uso no ano.

Em qualquer ano, a depreciação (Dt), é dada pela fórmula:
onde: Dt = valor da depreciação no ano t; VI – VR = valor depreciável (valor inicial menos o
valor de sucata – 20% do valor inicial); N = anos de vida útil do ativo.

A estrutura de custos considerada nos diversos sistemas de produção das regiões foi
desenvolvida por Martin et al. (1998), que reuniu os componentes de custos de tal forma que permita uma análise detalhada dos mesmos:

a) Custo operacional efetivo (COE): representa as despesas anuais efetuadas com insumos, operações de máquinas, veículos e equipamentos, as despesas com mão de obra, encargos sociais (95% para mão de obra comum e 70,5% para tratorista e motorista, sobre os gastos com mão de obra) e empreitas relacionadas com as operações de preparo do solo, plantio, cana planta, cana soca e colheita;

b) Custo operacional total (COT): é o custo operacional efetivo adicionado de juros de custeio
(6,75% a. a. em metade do COE anual), Contribuição a Seguridade Social Rural (CSSR)
(2,30% do valor do rendimento ao preço de venda de R$46,36/t de cana); e as depreciações
das máquinas, veículos e equipamentos.

A atividade de cana-de-açúcar, embora constituída da cana soca (no geral quatro a cinco
cortes), é gerenciada como uma atividade única, guardando as especificidades na condução dos talhões e respectivos anos de produção. Sendo assim, o custo de produção por hectare foi calculado como sendo o custo médio de 5 anos, considerando que um canavial em geral possui 20% da área em fase de preparo do solo e plantio e 16% em cana planta, mais 16% em fase de socacom 2, 3, 4 e 5 anos de idade. 

A média ponderada dessas fases mais os custos com colheita, carregamento e transporte constituem os custos de produção estimados nesse trabalho. As produtividades consideradas são a média dos cinco cortes e foram obtidas pelos dados dos produtores e ratificadas com as associações municipais de fornecedores de cana.

Os valores de custos de colheita, empreitas e arrendamento foram levantados para cada região. Nos custos de colheitas, estão incorporados os gastos com carregamento e transporte, considerando uma distância média de 40 km (ida e volta) até a usina. O valor do arrendamento não foi adicionado ao COT, deixando ao produtor a opção de incorporá-lo ao seu custo, quando for o caso.

O levantamento de campo ocorreu no período de junho a julho de 2009 e os preços dos
insumos e serviços utilizados nas estimativas referem-se aos praticados no mês de março de
2010. As matrizes de coeficientes técnicos de cada região, bem como os custos de produção
estimados encontram-se nos anexos 2 a 7.

3 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados serão apresentados em três etapas. A primeira é uma breve discussão
sobre os sistemas de produção encontrados nas regiões. Em seguida, os resultados dos custos de produção das regiões, analisando os custos por sistema em cada região por hectare e por tonelada de cana, agregados em nível de COE e COT.

Em relação às operações, faz-se a análise do custo por operações entre as regiões e uma
comparação entre os tipos de colheita, finalizando com uma discussão sobre os custos de colheitas mecanizadas.

3.1 – Sistemas de Produção Analisados
Analisando as informações obtidas no levantamento e os objetivos do trabalho, os sistemas
de produção de cana-de-açúcar estudados nas seis regiões produtoras são os convencionais
que consideram o plantio manual. 

Em relação às colheitas, foram encontrados os seguintes sistemas: manual realizada pela usina; manual realizada pelo produtor; manual crua realizada pela usina; mecânica realizada pela usina; mecânica realizada pelo condomínio; mecânica realizada pelo produtor; e mecânica realizada por empresa de prestação de serviço.

Nas seis regiões, o preparo de solo e plantio tem como operações mais realizadas a
construção do terraço embutido, carregamento e aplicação de calcário, gradagem pesada I, sulcação e adubação, corte, carregamento, distribuição e picação de mudas e cobrição. Na região de Araçatuba, as operações de corte, carregamento, distribuição e picação de mudas são realizadas pelo condomínio de mão de obra da região.

Os tratos culturais da cana planta constituem-se da operação de quebra-lombo, visando
sistematizar o terreno para a operação de colheita, controle do mato e formigas. Nos tratos da cana soca, realiza-se a adubação em cobertura com adubos formulados com maior quantidade de nitrogênio e potássio, além da aplicação de herbicida e a complementação de calcário.

A colheita manual de cana queimada é realizada por cortadores de cana com o uso de
podão, colocando-se fogo no talhão para eliminar a palha normalmente na tarde do dia anterior ao do corte. O corte manual de cana crua é realizado pelos cortadores de cana, com a presença de palha. 

A colheita mecanizada da cana crua é feita por colhedoras que cortam, despalham e picam a
cana que é depositada no transbordo que trafega ao seu lado. O transporte pode ser realizado por biminhões ou treminhões que são, normalmente, prestação de serviço contratados pelas usinas. O valor cobrado depende da distância a ser transportada e, ainda, pode variar conforme o tipo de estrada. Geralmente, os custos com CCT (corte, carregamento e transporte) são realizados pelas usinas e descontados dos fornecedores, por
ocasião dos pagamentos entre esses agentes (OLIVEIRA, NACHILUK, TORQUATO, 2010).

3.2 – Custos de Produção das Regiões: custos por sistema em cada região

São apresentados os custos de produção envolvendo todos os sistemas de produção em análise para todas as regiões e suas respectivas produtividades, por hectare e por tonelada
(Tabela 1).

Na região de Araçatuba, o COE foi deR$38,71 e o COT de R$40,34/t para o sistema de
colheita manual realizada pela usina. Quando a colheita é realizada por uma empresa prestadora de serviços da região, o COE cai para R$32,08 e o COT para R$33,71/t, valores que são 20,69% e 19,68% menores que o sistema manual respectivamente.

Na região de Assis, o sistema de colheita mecanizada apresentou o menor custo de
produção com COE de R$35,39 e de R$40,64 para o COT.

Na região de Catanduva, o sistema de produção que utiliza colheita mecânica também
apresentou os menores valores de COE e COT, R$35,78/t e R$37,55/t respectivamente. 

Nesse caso, a colheita mecânica é realizada pelo condomínio de produtores. Para a região de Jaú, entre os sistemas que utilizam colheita manual, aquela realizada pelo produtor apresentou valores menores que as realizadas pela usina (COE de R$40,01/t e COT
de R$42,05/t). 

Para a cana crua, os valores de custo são superiores, já que essa modalidade
apresenta preços de colheita maiores, dada as dificuldades na operação.

Quando a colheita mecânica é realizada pelo condomínio, ela apresenta menores valores
de COE e COT por tonelada, R$32,75 e R$34,80 respectivamente. Por apresentar, nessa
região, uma eficiência na administração do modelo de condomínio, ocorre um reflexo positivo
principalmente no valor do COT, em que os custos fixos são diluídos em função do bom
desempenho operacional no uso das colhedoras, o que racionaliza o número de horas máquinas, refletindo num menor custo de depreciação, que normalmente apresenta grande impacto nesse item.

Em Piracicaba, os custos de produção apresentam menores diferenças percentuais entre os sistemas de colheita que são realizadas pelas usinas e o sistema de colheita mecânica tem o menor custo do COE (R$33,15/t) e de COT (R$35,28/t).

Em situação semelhante a de Piracicaba, por apresentar sistemas que utilizam somente
os serviços das usinas em suas colheitas, na região de Ribeirão Preto a cana-de-açúcar apresenta menores custos quando colhida mecanicamente, na ordem de R$34,76/t para o COE e de R$36,43/t para o COT.


O valor do arrendamento de terras para o cultivo da cana-de-açúcar é muito significativo
no custo de produção e os fornecedores que realizam esse tipo de contrato para aumentar suas áreas de produção são os que estão mais preocupados com as variações nos preços recebidos pela tonelada da cana. De acordo com Rapassi, Tarsitano e Bolonhezi (2009), os que são proprietários (em maioria), como não levam em conta o custo de oportunidade do uso da terra como um dispêndio, ainda se consideram numa melhor situação.

O valor anual do arrendamento é calculado de duas maneiras: 1) a quantidade de cana
(t/alq.) x quantidade de açúcares totais recuperáveis (ATR) média da região x o valor do ATR
(mensal ou acumulado); nesse caso, se no final da safra o valor acumulado for superior ao estabelecido, faz-se o acerto; 2) valor da tonelada de cana x uma quantidade de cana estabelecida na região. Verificou-se, nas regiões estudadas, que os valores pagos variaram de R$528,84/ha/ano a R$1.087,70/ha/ano. Nesse caso, o produtor que realiza arrendamento deve considerar em seus custos de produção o valor vigente em sua região.

Deve-se observar que, na ocasião do levantamento de campo, os fornecedores vinham
de um período de crise do setor, com a escassez de financiamentos internos e externos, retração na exportação de etanol e preços pagos ao produtor pela matéria-prima abaixo do esperado. 

Segundo dados do IEA (2010), em novembro de 2008, o valor foi de R$31,02/t de cana e no início da safra 2009/2010 (no mês de março), de R$32,19.

3.3 – Custo por Operações entre Regiões 

Os custos por operações entre as regiões variaram para o COE entre R$6,73/t na região de Ribeirão Preto e R$7,62/t na região de Piracicaba, indicando um diferencial de 13,3% entre as duas regiões (Figura 2). Os maiores valores, seguidos de Piracicaba, são para as regiões
de Jaú, apresentando valor de R$7,53/t, e região de Assis (R$7,46/t).

Comparando os valores do COT, observa-se para as mesmas regiões diferencial de
16,9% para os valores de R$8,38/t e R$7,17 para Piracicaba e Ribeirão Preto, respectivamente. 

As outras regiões do estudo ficaram com valores intermediários com amplitudes de variação menores que os 16,9%. 

Os maiores valores encontrados em Piracicaba são justificados pelo fato de seu sistema de produção utilizar maior número de operações e, como consequência, apresentar maiores valores de hora máquina e mão de obra.

No caso de Ribeirão Preto, os produtores realizam menor número de operações, diminuindo,
assim, o impacto de horas máquina e mão-de-obra nos custos nessa fase da cultura.

Em relação aos custos na fase de cana planta, observa-se que a região Piracicaba também
apresenta os maiores valores, enquanto a região de Catanduva possui os valores menores
(R$0,63/t e 0,38/t para o COT, respectivamente)

Das regiões estudadas, somente os produtores de Catanduva não realizam a operação
de quebra-lombo, que está ligada a colheita mecânica. O maior dispêndio de recurso na realização das operações é com a aquisição de herbicidas, o qual representa de 17,7 a 33,4% do gasto total no trato da cultura dos gastos do fornecedor.

Na maioria das regiões, os fornecedores aplicam diversos herbicidas conforme a necessidade e o período.

Em relação aos custos na fase de cana soca, observa-se que a região de Jaú apresenta
os maiores valores, enquanto a região de Catanduva possui os menores (Figura 4). Em Jaú, observou-se que nessa fase se realizam as operações de calagem e aplicação de gesso, o que não se mostrou comum nas outras regiões. Normalmente, esta operação é realizada a cada três anos.

Observando os valores de custo para todos os tipos de colheitas detectados pelo estudo,
verificou-se que o maior é o de colheita manual de cana crua realizada pela usina na região
de Jaú por estar situado em área urbana e pelo fato da legislação impedir a queima para colheita nessas condições. Além disso, por se tratar de pequenas áreas, não é viável o dispêndio logístico para ser colhida mecanicamente. 

Quanto ao menor custo, a colheita mecânica realizada pelo condomínio na região de
Jaú apresentou o menor valor (R$17,30/t), seguida da colheita realizada pela empresa prestadora de serviços em Araçatuba (R$17,92/t).

Em termos de participação percentual no custo da cana-de-açúcar estimado para as
seis regiões, a colheita participa de 49,7% a 62,9% do COT.

3.4 – Comparação dos Custos entre Colheitas
Devido à diversidade de formas de colheitas verificadas nos sistema de produção
entre as regiões, optou-se em analisar os dados de valores extremos para se ter ideia da ordem de grandeza dessas variações.

Comparando os custos de produção de cana-de-açúcar entre todas as regiões e sistemas
de colheita manual realizada por usina, verifica-se que o corte de cana crua ocorrido na região de Jaú apresenta o maior custo de produção (R$45,42/t para o COE e COT de
R$47,46/t). Esse tipo de colheita foi inserido nesse grupo por ser de importância principalmente no município de Jaú, que abrange de 10% a 15%
da área.

Analisando os sistemas de produção de colheita manual da cana queimada realizado pela
usina, verifica-se que a região de Jaú apresenta o maior custo de produção nesse sistema (COT de R$42,05/t e COE de R$40,01/t), seguida de Araçatuba com valores de R$38,71 para o COE e R$40,34/t para o COT. Essas regiões apresentam os maiores preços relativos de colheita manual por tonelada. 

A região de Piracicaba possui o menor custo de produção desse sistema. Esse tipo de
colheita tem menor impacto no custo de produção porque, como os produtores realizam a operação de aceiro, o valor por tonelada de serviço é menor. O fato de colher menor quantidade na região também contribui para esse menor valor. 

A região de Ribeirão Preto apresenta custo de produção, nesse sistema, pouco superior
à região de Catanduva pela combinação de duas relações: o preço relativo da operação por tonelada maior e a quantidade colhida por hectare também menor (90 t em Ribeirão Preto e 91 t em Catanduva.

Em Assis, os custos de produção são menores pois, embora tenha produtividade maior, os custos relativos de colheita são menores. Na região de Jaú, ocorre maior preço relativo da colheita e maior impacto das outras operações no custo de produção nas outras fases
de cana soca. 

Nessa região, os custos de horas máquina são menores e, portanto, seu impacto é menor no custo, mesmo colhendo 82t/ha, enquanto Assis possui maior número de horas máquinas por hectare, apresenta COT proporcionalmente maior por ter maior custo de depreciação. 

Verificou-se que a região de Piracicaba apresenta menor custo de produção, pois mesmo
com o fato do produtor realizar a operação de aceiro (barateando o custo do serviço), o valor de colheita é mais competitivo (Figura 9).

A região de Ribeirão Preto apresenta valor intermediário pelo fato das usinas serem competitivas entre si no fornecimento dos serviços e por ser a região que apresenta maior número de usinas no Estado. Isso não ocorre na região de Jaú, onde os preços são maiores e impactam os custos, já mais altos nessa região.

Comparando a colheita mecânica realizada pelo condomínio, observam-se dois aspectos:
os fornecedores estão se organizando e oferecendo serviços de qualidade e de menores
valores, o que diminui o impacto da colheita nos custos da cultura. Esses impactos são menores na região de Jaú, pelo fato de ela ser pioneira nessa modalidade e possuir eficiência na realização dessas operações.

3.5 – Custos de Colheitas Mecanizadas
De acordo com levantamentos da última safra de cana-de-açúcar no Estado de São
Paulo, a colheita mecanizada atinge 60% da área colhida. Para verificar o impacto que as diferentes formas de realização da operação e as diferentes formas de serviços disponíveis, elaborou-se a figura

11. Observa-se que as regiões apresentam três diferentes formas de realizar a operação:
com serviços da usina (Jaú, Piracicaba e RibeirãoPreto); empresa terceirizada (Araçatuba); e pelo produtor (Assis e Jaú) e por condomínio (Catanduva
e Jaú).

Avaliando os valores dos custos de produção em relação às regiões que realizam a
colheita mecanizada, independente de quem as realiza, verifica-se que nas seis regiões levantadas os valores do COE variam de R$32,08 a R$39,38, e do COT de R$33,71 a R$41,34.

Os custos de produção total da colheita realizada pela usina na região de Jaú é o mais
oneroso para o fornecedor (R$41,33/t), enquanto a realizada pela empresas de serviços na região de Araçatuba tem o menor valor.

Essas diferenças refletem as formas de relacionamento com as usinas e as dificuldades
dos fornecedores encontrarem maneiras de resolver impasses nas negociações.
Observou-se que, quando o produtor realiza a operação de colheita mecanizada e transbordo, os custos de produção tendem a ser menores, mesmo utilizando os serviços de transporte da usina. 

O condomínio tem apresentado uma opção dos fornecedores para diminuir a dependência dos serviços das usinas. Além disso, a impossibilidade de aquisição de colhedora que iniciou essa atividade recentemente apresenta ainda valores com maiores impactos nos custos de produção, ao contrário da região de Jaú que, pelo núcleo de Lençóis Paulista, vem apresentando ganho de eficiência no uso de máquinas.

A importância da racionalização do uso de máquinas decorre da necessidade de otimizar
sistemas e processos nas atividades desenvolvidas na propriedade. Seu gerenciamento otimizado incrementa a capacidade operacional do sistema com simultânea redução de custos devido à operação, manutenção, pontualidade na execução
das tarefas e não ociosidade do equipamento.

4 – CONCLUSÕES
Este trabalho obteve dados que permitiram caracterizar e analisar a cultura da cana-de–açúcar do ponto de vista do custo de produção (sistema convencional), sob diferentes tipos de colheita e ainda verificar os impactos e a importância das despesas com colheita no custo operacional.

Nas regiões de Ribeirão Preto, Piracicaba, Catanduva, Assis e Araçatuba, foi identificado
que os fornecedores utilizam usualmente duas formas de realizar a colheita. Na região de
Jaú, foi levantada a maior diversidade de formas de colheita (seis ao todo). Nessa região há canaviais emárea urbana, onde a colheita da cana crua é realizada manualmente.

A região de Jaú apresentou os maiores custos de produção quando as colheitas (manual
e mecânica) são realizadas pela usina, e os menores quando elas são realizadas de forma mecânica pelos produtores e condomínio. Os menores custos de produção ocorrem no sistema de colheita manual na região de Assis.

A mecanização ainda é o item mais oneroso das operações e nem sempre pode ser adotada pelos fornecedores, principalmente os que colhem até 12 mil t, porque não possuem capacidade de pagamento para aquisição de equipamentos ou a declividade não permite o trânsito de máquinas. 

Ao mesmo tempo, a adoção da mecanização da colheita pode significar uma redução de 30% no custo de produção em relação à colheita manual. Visando superar tal obstáculo, alguns fornecedores passaram a adotar o modelo e contratação coletiva de mão de obra ou de máquinas de forma direta denominada de “condomínio”, modelo que é uma forma de sistematizar as operações mecanizadas e o uso
de equipamentos com menor custo.

Em função de fatores como esse é que o custo de produção das atividades agrícolas
torna-se um importante instrumento de planejamento e gestão de uma propriedade, permitindo mensurar o sucesso da empresa em seu esforço
econômico. 

A condição ideal para qualquer processo produtivo é aquela em que o preço de
mercado permita cobrir os custos de produção e de comercialização. Ademais, tal ferramentade -açúcar do ponto de vista do custo de produção (sistema convencional), sob diferentes tipos de colheita e ainda verificar os impactos e a importância das despesas com colheita no custo operacional.

Nas regiões de Ribeirão Preto, Piracicaba, Catanduva, Assis e Araçatuba, foi identificado
que os fornecedores utilizam usualmente duas formas de realizar a colheita. Na região de
Jaú, foi levantada a maior diversidade de formas de colheita (seis ao todo). Nessa região há canaviais emárea urbana, onde a colheita da cana crua é realizada manualmente.

A região de Jaú apresentou os maiores custos de produção quando as colheitas (manual
e mecânica) são realizadas pela usina, e os menores quando elas são realizadas de forma mecânica pelos produtores e condomínio. Os menores custos de produção ocorrem no sistema de colheita manual na região de Assis.

A mecanização ainda é o item mais oneroso das operações e nem sempre pode ser
adotada pelos fornecedores, principalmente os que colhem até 12 mil t, porque não possuem
capacidade de pagamento para aquisição de equipamentos ou a declividade não permite o análise permite que se calculem indicadores como a rentabilidade da atividade, estimando não apenas as margens obtidas, como também o ponto de equilíbrio (que determina quanto se deve produzir sob nível pré-establecido de custo e preço de venda) em que a renda obtida remunere tais custos.

Dispor-se, também, de um custo de produção facilita a implementação de planejamento
orçamentário da atividade, realizado no início de cada ano agrícola. Um orçamento confiável permite prever qual o desembolso necessário ao longo da safra, e como poderá ser supervisionado o fluxo de caixa da atividade. Nesse contexto os produtores fornecedores de cana-de-açúcar poderão dispor de importante ferramenta de gestão que auxilie na tomada de decisão, negociação de contratos com usinas, estudos de viabilidade econômica e contratação de serviços de terceiros.

LITERATURA CITADA
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CUSTO DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR NOS DIFERENTES SISTEMAS DE PRODUÇÃO NAS REGIÕES DO ESTADO DE SÃO PAULO

RESUMO: Este trabalho teve como objetivo calcular as estimativas de custo de produção dos
fornecedores de cana-de-açúcar de seis regiões produtoras do Estado de São Paulo, a partir das matrizes de coeficientes técnicos de utilização dos fatores de produção. Utilizou-se a metodologia de custo operacional de produção para as diferentes formas de realização das colheitas. Nas regiões de Ribeirão Preto, Piracicaba, Catanduva, Assis e Araçatuba, foi identificado que os fornecedores realizam usualmente duas formas de realizar a colheita. Na região de Jaú foi levantada a maior diversidade de formas  de colheita, (seis ao todo). Nessa região há áreas de canavial na área urbana onde a colheita da cana crua é realizada manualmente. A região de Jaú apresentou os maiores custos de produção quando as
colheitas (manual e mecânica) são realizadas pela usina, e os menores quando estas são realizadas de forma mecânica pelos produtores e condomínio. Os menores custos de produção ocorrem no sistema de colheita manual na região de Assis.
Palavras-chave: custo de produção, sistemas de produção, coeficientes técnicos, cana-de-açúcar.

4A ORPLANA conta com 18.659 fornecedores associados na região e deste total, 18.078 estão ligados a 26 associações regionais no Estado de São Paulo.

1 Este artigo é parte do projeto cadastrado no SIGA, NRP-3305. As autoras agradecem à Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (ORPLANA) e às associações municipais de fornecedores de cana-de-açúcar, aos fornecedores pelas informações, aos técnicos Geraldo Majela de Andrade e Silva e Luís Rodrigues, ao agente de apoio à pesquisa Paulo Sérgio Cordeiro Franco e aos estagiários Vinícius Nascimento Silva e Pedro Rafael Gazolli Marques pela colaboração no levantamento de preços, e a Maria Cristina Teixeira de Jesus Rowies pela elaboração do mapa. Registrado no CCTC, IE-81/2010.

2 Engenheira Agrônoma, Mestre, Pesquisadora Científica do Instituto de Economia Agrícola (e-mail: marli@iea.sp.
gov.br).

3 Engenheira Agrônoma, Pesquisadora Científica do Instituto
de Economia Agrícola (e-mail: katia@iea.sp.gov.br).

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