Pesquisadores da Universidade Rice, nos Estados Unidos, desenvolveram o que eles dizem ser um “computador” feito de tecido. Em vez de chips, transistores e baterias, o dispositivo inteligente possui pequenos bolsões de ar que podem ser inflados com um simples apertar de botão.
Segundo os cientistas, quando aplicado em uma jaqueta, por exemplo, o sistema pneumático é capaz de mover partes flexíveis — como a manga ou o capuz — sem precisar de energia elétrica ou equipamentos eletrônicos complicados para desempenhar essa tarefa por repetidas vezes.
“À primeira vista, a jaqueta parece mais um pneu de bicicleta do que um computador. Mas você pode pensar nas bolsas cheias de ar como algo semelhante aos transistores eletrônicos. Utilizando uma série de canais torcidos, conseguimos formar os bits, como se fossem 1s e 0s da memória de um computador”, explica o engenheiro Daniel Preston, autor principal do estudo.
Lógica digital fluídica
Em vez de utilizar um circuito eletrônico comum, com transistores controlando o fluxo de elétrons ou uma corrente elétrica, os pesquisadores substituíram a tensão presente nesse circuito pela pressão do sistema pneumático. Com isso, o dispositivo precisa apenas de ar para funcionar.
Uma jaqueta equipada com esse sistema pode realizar uma operação lógica por segundo. Parece pouco quando comparado aos mais de um bilhão de operações que um computador doméstico consegue fazer no mesmo espaço de tempo. No entanto, a ideia do protótipo é provar que o conceito pode ser aplicado em equipamento funcionais no futuro.
“Achamos que existem várias maneiras de implementar esse sistema para ajudar as pessoas a realizarem suas atividades diárias. Uma das próximas áreas que estamos analisando é a detecção de intenção. Assim que o usuário iniciar um curso de ação, o computador têxtil pode oferecer assistência para o restante desse movimento”, acrescenta Preston.
Porta NOT
O conceito do computador têxtil é baseado nas chamadas portas NOT, um componente básico do circuito eletrônico, também conhecido como inversor. A saída desta porta lógica é o oposto da entrada, ou seja, em um circuito comum a porta está ligada ou desligada (1 ou 0). Já numa porta pneumática, esses termos são substituídos por pressão de ar “alta” ou “baixa” para funções como ligar e desligar.
As válvulas, cada uma com quase três centímetros quadrados, foram laminadas em tecidos resistentes e provaram ser robustas o suficiente para lidar com mais de 20 mil ciclos de liga e desliga. Além disso, a jaqueta passou 20 vezes por uma máquina de lavar roupas e saiu ilesa, mostrando que o computador têxtil é muito mais resistente do que sistemas baseados em semicondutores de silício.
“Uma futura jaqueta pode conter um sensor de temperatura e a vestimenta pode incorporar essa medição em suas ações e outras funcionalidades no dia a dia. Isso pode demorar um pouco, mas provamos que é possível emular qualquer funcionalidade de um computador eletrônico sem utilizar eletricidade”, encerra Daniel Preston.
Via: Canaltech
Imagem: Reprodução/Rice University/Canaltech